Resenha
Resenha do Capítulo 5 "A cultura da virtualidade real: a integração da comunicação eletrônica, o fim da audiência de massa e o surgimento de redes interativas", do livro "A Sociedade em Rede", Manuel Castells, 1996.
Por Luciana de Laura M. Fidelis Castilho
A cultura da virtualidade real: a integração da comunicação eletrônica, o fim da audiência de massa e o surgimento de redes interativas
A Grécia, por volta de 700 a.C, passou por um momento histórico muito importante - a invenção do alfabeto, o qual aproximou o discurso oral do escrito e isso fez com que a filosofia ocidental e a ciência (dos dias atuais) se desenvolvessem. Havelock classificou esse fato como um "estado de espírito alfabético" o qual permitiu que a comunicação apresentasse uma mudança qualitativa. Esse momento histórico teve aproximadamente três mil anos de preparação dessa evolução da língua falada e não alfabética para esse novo estado de espírito. A alfabetização só conquistou espaço depois de alguns séculos, quando do invento e propagação da imprensa e a fabricação do papel.
Entretanto, essa nova era alfabética fez com que houvesse uma separação, uma hierarquia entre a comunicação escrita e a audiovisual - essa de extrema relevância para expressão da mente humana. Isso resultou numa desafronta por parte da cultura audiovisual, já no século XX, com o surgimento do filme e rádio e, posteriormente, a televisão os quais tiveram uma aderência muito positiva por parte das pessoas, fato que superou o alcance da comunicação escrita.
A mesma evolução se dá em tempos mais atuais em que, passados 2700 anos, há uma mudança tecnológica que agrega diferentes modelos de comunicação - escrita, oral e audiovisual - em uma mesma rede interativa. Aqui o "espírito humano" está reunindo: cérebro, contextos sociais e máquina. Consequência disso é a mudança do caráter da comunicação. Mas não pára por aí! Essa mudança altera a cultura pois a linguagem é o nosso meio de comunicação e cria, ou seja, molda a nossa cultura. Enfim, nossa cultura sempre mudará, principalmente após o aparecimento do mais recente sistema eletrônico de comunicação que integra globalmente todos os meios de comunicação.
Da galáxia de Gutenberg à galáxia de McLuhan: o surgimento da cultura dos meios de comunicação de massa
A inserção da televisão e sua aceitação em massa criou um novo cenário para a nova era da comunicação, de modo que os outros meios tiveram que ser reestruturados para que continuassem ocupando o seu espaço como, por exemplo, o rádio adaptou temas que se relacionavam ao modo de vida cotidiano das pessoas; filmes adaptados à audiência televisiva; jornais e revistas se especializaram também.
Questiona-se o fato da televisão ter se tornado o meio de comunicação mais predominante e tão rapidamente. Conforme Castells, a tendência é devido ao fato das qualidade da vida em casa após o dia todo de trabalho e pela falta de opção para o lazer pessoal/cultural. Ele cita que a síndrome do mínimo esforço pode explicar essa rapidez com que tenha a tornado o meio de comunicação predominante.
Essa nova configuração sobrepujada pela TV poderia ser qualificado como meio de comunicação em massa. Essa conceituação da cultura em massa que surgiu do termo sociedade de massa, foi uma expressão dada por quem controlava esse novo sistema que eram governos e empresários.
Enfim, o que a TV representava não era esse poder centralizador e, sim, o fim da Galáxia de Gutenberg - meio de comunicação predominado pela tecnologia tipográfica e alfabeto fonético.
Segundo Castells, a mídia, no entanto, é considerada a segunda maior categoria de atividade, vindo após o trabalho e está inserida conjuntamente nas atividades domésticas, refeições em família etc, ou seja, um ambiente no qual as pessoas interagem constantemente. Esse comportamento mostra que a mídia tende a influenciar o consciente e o comportamento, de forma que o consciente passa a selecionar as informações e interpretar as imagens mediante as preferências individuais e estilo de vida.
A nova mídia e a diversificação da audiência em massa
Os anos 80 trouxeram novas mudanças na mídia, tais como: os jornais passaram a serem escritos, editados e impressos à distância; o aparelho walkman foi introduzido e possibilitou um ambiente portátil de música, atingindo principalmente os adolescentes e fazendo com que se "isolassem" do mundo exterior; as rádios se especializaram em estações temáticas, como as que tocam música 24 horas, as que tocam preferencialmente um estilo de música. Houve também o surgimento dos videocassetes os quais trouxeram diversidade nas opções das programações diferentemente daquele da mídia televisiva, como filmes, vídeos musicais, gravação de programas da preferência do telespectador e, essa última, fez com que a mídia diversificasse as ofertas da programação da TV.
Outro avanço que teve foi a autorreprodução de imagens de eventos comemorativos, festas familiares, férias que, mesmo com a limitação da tecnologia das imagens, se tornou uma ferramenta de aproximação de tela -experiência de vida.
Mas foi na década de 90, com o surgimento da TV à cabo e satélite que houve uma grande diversificação de programação tendo como uma das consequências, um público mais seletivo, segmentado e não mais uma mídia de massa como antes.
Contudo, a diversificação das formas de comunicação não resultam em prejuízo no domínio da televisão pelas empresas e governo. Existem grandes investimentos por parte de megagrupos na área de comunicação, resultado dessa concorrência é que a televisão se tornou mais comercializada e o mercado dominado por esses pequenos grupos.